Chegou a hora de largar a
fralda
Pais e professores precisam atuar em conjunto para identificar os sinais de
maturidade das crianças e auxiliá-las a usar o vaso sanitário
A criança tem cerca de 2 anos, demonstra alguma segurança nos movimentos
motores, possui autonomia ao falar e sabe controlar os esfíncteres, as
estruturas musculares que regulam a retenção e a eliminação das fezes e da
urina. Já avisa que quer fazer xixi e demora um tempinho para fazer cocô. Quer
imitar os irmãos ou amigos mais velhos, pede para sentar no vaso sanitário e
passa mais horas com a fralda seca.
Nós, adultos, por termos ultrapassado esse desafio há tanto tempo, às vezes nos
esquecemos do elevado grau de exigência que é dar adeus às fraldas. (Livro
Tirando as Fraldas T. Berry Brazelton)
“primeiro, as crianças devem sentir um movimento intestinal em curso. Então,
devem conter esse movimento, ir aonde lhes dizem para ir, sentar-se - e fazer.
Então, dar a descarga. Depois disso tudo, elas têm que assistir aquilo
desaparecer para sempre. Nunca mais verão aquela parte delas
novamente!"
Brazelton
é enfático ao afirmar que esse processo não pode ser forçado: é essencial
esperar que a criança mostre sinais de maturidade para a retirada das fraldas.
Nessa fase, pai, mãe e professores precisam se unir num trabalho de equipe, que
pode durar de poucos dias a vários meses.
Passagem sem trauma
A ideia é apoiar essa etapa sem deixar que a ansiedade e a pressão atrapalhem.
"Com família e educadores de acordo quanto ao momento de início da
retirada da fralda, é importante que os procedimentos sejam incorporados em
casa e na creche". Cabe à instituição de Educação Infantil se organizar
para que esse processo seja vivido como uma boa experiência.
O papel do educador é de um observador atento. Leva a turma ao banheiro
regularmente, convidando todos a se sentar no vaso e entender sua função. E age
junto às famílias para encaminhar a criança rumo ao
desenvolvimento.
cuidados
"No começo do ano, perguntamos se os pais acham que seus filhos já estão
preparados para iniciar a retirada de fralda. Se acreditam que sim, combinamos
de tentar a mudança de hábitos", afirma Maristela Schupecheki
Ferreira, professora do maternal da CMEI Professor Antônio Nunes Cottar,
em Ponta Grossa.
No ambiente escolar, os cuidados incluem
conversas com a turma, exercícios de troca de fralda com bonecos e preparação
do banheiro para os pequenos. A CMEI onde Maristela trabalha tem vasos baixos.
Uma boa dica é recomendar aos pais que adaptem os de casa com tampas menores,
mais adequadas para a idade. "Isso ajuda as crianças a se sentir à
vontade. Essa medida também transmite segurança, mostrando a eles que podem
fazer xixi e cocô sem o risco de cair no vaso",
explica.
Outra ideia é estabelecer uma rotina constante de idas ao banheiro. Para evitar
a espera da turma, a professora Maristela divide tarefas com sua assistente.
"Enquanto uma leva a criança ao banheiro, a outra fica na sala, brincando
com massas de modelar e blocos de encaixe, ou envolvida em atividades de
música, movimento e leitura", conta.
Vale discutir ainda uma estratégia bastante usada por muitas creches e famílias
na passagem da fralda ao vaso: a introdução do penico. Embora não seja
necessário - afinal, é mais uma coisa à qual a criança vai ter de se adaptar -,
ele pode ser usado para dar mais confiança desde que fique sempre no banheiro,
tanto por motivos de higiene como para acostumá-la ao espaço correto.
A criança está pronta?
Os pequenos começam a demonstrar interesse pela retirada das fraldas aos 2
anos. Muitas vezes, esse processo é mais familiar para os educadores do que
para os pais. Por isso, além de auxiliar as crianças a ultrapassar essa fase, é
preciso orientar também os adultos. O principal é saber reconhecer quando cada
um está pronto para utilizar o vaso. O pediatra T. Berry Brazelton
enumera alguns sinais de maturidade, que devem ser observados com
atenção:
- A criança já aprendeu a andar e tem paciência para ficar
sentada.
- Presta atenção no que os adultos dizem e mostra que entende.
- Compreende que tem desejos e capacidade de dizer não.
- Sabe o lugar dos objetos e começa a guardá-los corretamente.
- Imita os mais velhos com gestos ou na maneira de andar.
- Faz xixi e cocô em horários previsíveis e tem mais consciência do próprio
corpo.
Compreensão com os
"acidentes"
Os
discursos e as ações da instituição e da família podem estar bastante
ajustados, as crianças conseguem ficar secas na creche, mas, chegando em casa,
relaxam e pedem as fraldas. Ou, por causa da chegada de um irmão, voltam a
fazer xixi fora do lugar. Diante dessas situações, oriente os pais a ir com
calma. Fornecendo informações sobre as atitudes dos pequenos durante o dia,
recomende que não deem muito líquido antes de dormir e peça que não retirem as
fraldas à noite até ter alguma certeza de que elas não serão molhadas. E não os
deixe se esquecer da maior tarefa de nós, adultos: estimular a criança a
realizar essa passagem por conta própria. Assim, a confiança infantil ganha um
forte impulso
Fase Anal:
Para entendermos a pessoa que somos hoje, voltemos a um passado remoto dos
primeiros anos de nossa infância. Analisando as fases da sexualidade segundo a
teoria de Freud, pode-se apontar os fortes indícios de fixação naquela que
moldou a nossa própria formação.
A segunda fase - dos 18 meses aos 4 anos de vida - a
gratificação do reconhecimento que leva à consciência está no prazer do anus. É
nesse período que a criança se vê diante de um dilema. O que para ela é
resultado da sua própria criação - as fezes - por outro pode ser motivo
de críticas e deboche, porque até então, na sua consciência, antes de um ano e
meio de vida aquele bebê que evacuava nas fraldas era apenas um anjo que
expulsava naturalmente seu cocozinho. Ao ver o objeto de sua criação, mas posta
contra uma sociedade que discrimina o mau cheiro das fezes, a criança é
ensinada a conviver em sociedade. Nesse ínterim ela recebe o reconhecimento e a
educação ou os apontamentos e as críticas. Nessa fase a criança requer uma
atenção especial. Ela necessita que haja por parte dos pais ou de quem a educa
um direcionamento definido que a ensine o poder do controle através da higiene
pessoal. Recebendo esse apoio, a criança aprende que o controle fisiológico é
uma nova fonte de prazer. É o tempo em que o filho também espera dos pais que
eles estipulem e corrijam os erros do filho.
É nesse tempo que a criança abstrai os
elogios e a atenção recebida, pois ela espera, ao aprender a controlar seu
fisiológico, que os pais ou quem a educa possam reconhecer os seus
méritos. Nesta fase a criança começa a captar através dos ensinamentos
paternos a diferença do bom/mau,
feio/bonito, certo/errado/, limpo/sujo, e se vê diante de tantos
tabus e proibições, até mesmo aqueles que envolvem sua genitália ou
sexualidade.
Desvendando o aprendizado do controle fisiológico, ao seu inverso diante de uma
fixação nessa fase, ou seja, tendo-a completado de forma ineficaz, ao invés dos
elogios as críticas, das recompensas a punição, do ensinamento a falta de
controle dos pais, podem haver conflitos para o resto da vida em relação às
experiências sofridas durante esta época da infância.
Freud aponta três características principais de caráter anal: ordem, parcimônia
(economia), e teimosia. A criança que sofreu algum bloqueio na fase anal quer
seja pela falta de atenção dos pais, pela falta de conceitos não tão bem
definidos, pelas críticas e desapontamentos recebidos, pela falta de
reconhecimento e elogios aos atos das crianças originou o adulto controlado
demais, em alguns indivíduos como perfeccionistas e impecáveis de traços
negativos.
Adultos que não lidam bem com críticas
tais como aqueles que não respeitam seus superiores ou não aceitam ordem dos
chefes tiveram algum conflito na fase anal. É como se retomassem à lembrança a
mesma voz do pai ou da mãe que os criticava ou os punia.(conflito de
autoridade-rebelião). Em contrapartida eles se tornam críticos, desafiadores e
competitivos uma porque dão em recompensa aquilo que receberam; outra porque
tendem a mostrar que possuem algum valor por isso desafiam, e por último se
tornam competidores natos porque encontram prazer em controlar ou
ganhar.
Esses mesmos sujeitos trazem a ideia de dar e recusar. São as pessoas que lidam
melhor ou pior com as críticas e elogios. Eles vão procurar a vida inteira
motivos que as levem através dos fragmentos da vida a se sentirem recompensadas
pelo mundo exterior. Buscam a troca por algo que fazem, pelo que são ou pelo
que podem demonstrar ser ou ter.
Para entender melhor os conflitos
existentes na fase anal e que tipos de indivíduos elas originam, vamos imaginar
a situação em que a criança se encontra ao sentir prazer ao defecar. Ela
entende que está ali a sua primeira produção e que em alguns casos oferece aos
pais como presente. O feedback que os pais dão é que pode desencadear certos
bloqueios. A criança passa a reconhecer o sentido das coisas, do bem e do mau,
do sujo e do limpo. Dependendo da resposta dos pais, a criança passa a entender
que sua produção que lhe deu prazer ao defecá-la através das sensações da
mucosa anal cheira ruim e é negativa ou se faz parte de um processo natural de
todo ser humano. A partir de então, a criança passa a ter o controle sobre as
vias fisiológicas. O modo como o pai ou a mãe ensina/repreende/ou adverte é o
que faz desenvolver sua personalidade dessa fase. O indivíduo pode se
desenvolver agressivo, hostil, sádico, cruel, ou ainda raivoso, teimoso e
mesquinho se a experiência teve seu saldo negativo.
A criança que entendeu que o processo de
defecação lhe acarretava como um ser sujo, impuro e diferente, trouxe em si o
peso das críticas e da punição desenvolvendo um sujeito arredio, difícil de
conviver e deveras avarento porque transferiu a energia do controle fisiológico
ao controle econômico, retendo para si ao invés de expulsar. O indivíduo
acredita que dar a sua obra-prima como presente vai lhe trazer consequências
desastrosas como na infância, o que, segundo Freud, no desenvolvimento
psicossexual a condensação da equação se faz:
fezes=presente=dinheiro.
No campo da ambivalência sexual o homem ou mulher liga o erotismo anal entre
retenção e evacuação. É o que torna os sexuados conflituosos em
atividade/passividade, dominação/submissão ou tendências ao sadomasoquismo.
Neste último caso, o desejo de evacuar o objeto que lhe deu prazer remete à
criança que entendeu que a sua produção não era aceita, tinha cheiro ruim e
deveria ser destruída e que por outro lado retê-la era uma maneira de tomar
posse do seu objeto, definindo assim o sado.
A fixação na vida adulta se transfere a
algumas características ou formações. É o caso dos pintores (que transferem com
a tinta sobre as paredes a ideia de limpeza e ordem, anulando assim um
constrangimento na fase anal); os escultores (que criam sua obra de arte em
lugar daquela antes rejeitada pelos pais); pessoas generosas ou avarentas (as
duas faces da moeda de dar e recusar já mencionada acima) e no sexo
anal.
Denis Rafael Albach
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Tirando as Fraldas, T. Berry Brazelton
e Joshua D. Sparrow, 118
págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 23 reais
CONTATOS
Beatriz Ferraz
CMEI Professor Antônio Nunes Cottar,
R. Dourado, 55, 84043-010, Ponta Grossa, PR, tel. (42) 3229-3337
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